1.Sinopse do filme
Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são informados que Kate (Sofia Vassilieva), sua filha, tem leucemia e possui poucos anos de vida. O médico sugere aos pais que tentem um procedimento médico ortodoxo, gerando um filho de proveta que seja um doador compatível com Kate. Disposto a tudo para salvar a filha, eles aceitam a proposta. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Anos depois, os médicos decidem fazer um transplante de medula de Anna para Kate. Ao atingir 11 anos, Anna precisa doar um rim para a irmã. Cansada dos procedimentos médicos aos quais é submetida, ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação médica, de forma a que tenha direito a decidir o que fazer com seu corpo. Para defendê-la ela contrata Campbell Alexander (Alec Baldwin), um advogado que cuidará de seus interesses.
2. Princípios Bioéticos
A Bioética caracteriza-se
por ser uma ciência na qual o homem é o sujeito e não apenas o objeto. Dessa
forma, essa ciência adotou alguns princípios ou referenciais para analisar os dilemas
e/ou os conflitos de valores que surgem nas relações humanas; são eles:
autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça.
O
princípio da autonomia garante que a pessoa pode gerenciar sua própria vontade,
ou seja, ela tem liberdade de decisão sobre a sua vida. Os princípios de
beneficência e de não maleficência significam fazer o bem e evitar o mal,
respectivamente. Assim sendo, o profissional sempre que for propor um
tratamento a um paciente deverá reconhecer a dignidade do paciente e considerá-lo
em sua totalidade, de modo a se evitar fazer mal. Por fim, o princípio de
justiça consiste em dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo suas
necessidades, ou seja, considerar que as pessoas são diferentes assim como as
suas necessidades.
3. Bioética e o filme Uma Prova de amor
O filme “Uma prova de amor”
reproduz fatos polêmicos, envolvendo a vida humana, questões filosóficas,
éticas e religiosas. Kate, uma menina com leucemia, enfrenta a doença diante de
um mal prognóstico. A família de Kate descobre precocemente o câncer, mas mesmo
assim sua expectativa de vida é pequena. Toda a rotina da família muda, a mãe,
por exemplo, deixa o emprego de advogada para se dedicar aos cuidados da filha.
Na busca de ajudar Kate, seus pais resolvem gerar outro filho em proveta que
fosse compatível com a filha doente.
Desde então, Ana, a filha
projetada para salvar a vida da irmã, foi submetida a diversos procedimentos
invasivos e dolorosos. O ápice da história acontece quando Kate entra em
falência renal e necessita que Ana doe um de seus rins para Kate. A mãe faz de
tudo para salvar a vida de Kate, mas é surpreendida quando Ana a processa
alegando que não quer mais ajudar a irmã, a pedido de Kate. O que a mãe não
entendia é que Kate já havia aceitado seu processo de terminalidade, e que
estava se sentindo um peso para a família, na verdade os procedimentos
realizados em Kate não iriam alcançar o objetivo da cura.
Sendo assim, a família passa
a viver nessa dualidade entre salvar a vida de Kate ou deixá-la partir. A mãe
não aceita que a filha está morrendo e enfrenta sua filha Ana nos tribunais.
Após descobrir que Kate realmente queria partir, a mãe passa a entender melhor
a mentalidade de Kate em seu processo de morte.
Trabalhar
com o luto antecipatório é uma tarefa árdua, mexer com sentimentos enraizados
de negação da morte, a avançada luta medicinal contra a morte, a prolongação da
vida a qualquer custo. Os cuidados paliativos vieram para promover dignidade no
processo de terminalidade, e vai contra ações que prolonguem a vida de qualquer
forma, ignorando a impossibilidade de cura, a dor e o sofrimento causado pelo
processo patológico.
Os
princípios dos cuidados paliativos são: fornecer o alívio para dor e outros
sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispnéia e outras emergências
oncológicas; Reafirmar vida e a morte como processos naturais; Integrar os
aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do
paciente; Não apressar ou adiar a morte; Oferecer um sistema de apoio para ajudar
a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente; Oferecer
um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente
possível até sua morte; E usar uma abordagem interdisciplinar para acessar
necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo
aconselhamento e suporte ao luto.
Ou
seja, cuidados paliativos não consiste na espera da morte, mas na promoção da
qualidade de vida até que ela chegue ao processo de finitude. É importante
salientar que a nossa assistência também deve ser prestada aos familiares, no
filme por exemplo, a mãe de Kate não aceita o prognóstico da filha e exige que
todos os procedimentos possíveis sejam realizados, mesmo sendo orientada pela
equipe médica de que tais procedimentos não conseguiriam combater o processo
patológico enfrentado por Kate.
E
Kate passa por demasiado sofrimento por isso. Portanto a unidade de tratamento
compreende o paciente e sua família, e por isso a comunicação adequada entre
equipe de saúde e familiares e pacientes é a base para o esclarecimento e
favorecimento da adesão ao tratamento e aceitação da proximidade da morte.
Os
cuidados paliativos também não consistem apenas em cuidados hospitalares, por
exemplo, o fato de promover autonomia e alguns desejos do pacientes é uma forma
de oferecer a ele qualidade de vida. Um exemplo disso no filme é quando a
equipe médica libera Kate para ir à praia.
Segundo
o INCA, os cuidados paliativos modernos estão organizados em graus de
complexidade que se somam em um cuidado integral e ativo. Os cuidados
paliativos gerais referem-se à abordagem do paciente a partir do diagnóstico de
doença em progressão, atuando em todas as dimensões dos sintomas que vierem a
se apresentar.
Mesmo após o óbito do
paciente, a equipe de cuidados paliativos deve dar atenção ao processo de
morte: como ocorreu, qual o grau de conforto e que impactos trouxe aos
familiares e à própria equipe interdisciplinar. A assistência familiar
pós-morte pode e deve ser iniciada com intervenções preventivas.
Além disso, o filme aborda
vários temas éticos e bioéticos relevantes, que devem ser discutidos em nossa
sociedade. O primeiro deles está relacionado à fertilização in vitro, onde o único objetivo da nova
vida (Anna) é gerar vida para outro ser (Kate). O segundo tema a ser elencado é
com relação aos exames e procedimentos pelo qual a Anna é submetida a passar,
que são extremamente invasivos e dolorosos e que coloca em risco sua vida desde
pequena. O terceiro ponto a se mencionar é com relação à vontade e a autonomia
das meninas (Kate e Anna), protagonistas principais de todo esse enredo, que em
momento algum foram ouvidas pelos seus pais com relação a todos os
procedimentos médicos realizado nelas. O quarto tópico está relacionado à
negligência da mãe quanto aos outros membros da família, que ficaram em segundo
plano na vida dela diante da doença de Kate. O quinto aspecto importante do
filme está relacionado ao caráter pacifico e omisso do pai das meninas diante
das loucuras de sua esposa e dos procedimentos exagerados realizados pela
equipe médica.
O
caso exposto pelo filme, no Brasil, teria um andamento diferente, pois segundo
o art. 15 do Código Civil diz que: “ninguém pode ser constrangido a
submeter-se, com risco de morte, a tratamento médico ou a intervenção
cirúrgica", então se os pais de Anna optassem pela inseminação In vitro
para a sua concepção, com a única finalidade de adquirir órgãos da menor, para
salvar a filha mais velha da leucemia, isso não seria possível, sem a devida
autorização judicial, e sem o devido consentimento de Anna, prevalecendo, desse
modo, o princípio do direito ao controle do próprio corpo.
Quanto
ao processo de morte, ritos de passagem e luto presentes no filme, evidencia-se
a questão do luto antecipatório na vivência familiar, conforme mencionado
anteriormente, através dos momentos de “despedida” antes mesmo da morte
ilustrados pela lembranças de momentos com Kate no passado. Em relação à
passagem menciona-se no filme apenas que ela partiu deixando de respirar
suavemente deitada no leito. Como pós-morte mostra-se o funeral realizado e a
reorganização da família.
Esse
filme é de fácil entendimento e serve como instrumento para discussão sobre
cuidados paliativos e as atitudes tanto do paciente como da família frente à morte
e o morrer, ajudando profissionais de saúde a compreender essas situações e
melhor abordá-las na prática do dia-a-dia.
4.
Referências Bibliográficas
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR
GOMES DA SILVA. Cuidados Paliativos.
Disponível em:< http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=474>.
Acesso em: 4 de fevereiro de 2014.
JUNQUEIRA, Cilene Rennó. Bioética: Conceito, Fundamentação e Princípios. São Paulo:
Universidade Federal de São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_bioetica/Aula01.pdf>.
Acesso em 4 de fevereiro de 2014.
MARIA, Teresa. Uma prova de amor (poder da família x autonomia do menor).
Setembro, 2012. Disponível em:<http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/uma-prova-de-amor-poder-familiar-x-autonomia-do-menor/65865/>.
Acesso em: 4 de fevereiro de 2014.
SPIRI, Wilza Carla; BERTI, Heloísa Wey;
PEREIRA, Maria Lúcia Duarte. Os princípios bioéticos e os direitos dos usuários
de serviços de saúde. O Mundo da Saúde
– São Paulo, ano 30, v. 30, n.3 jul./set. 2006. Disponível em: <http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/38/principios_bioeticos_direitos.pdf>.
Acesso em 4 de fevereiro de 2014.
UMA PROVA DE AMOR. Direção de Nick
Cassavetes. Estados Unidos: PlayArte Pictures, 2009. 1 DVD (149 min.): son., color. Legendado.
Port.
Lindo esse filme emocionante
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