Cicely Saunders

“O sofrimento somente é intolerável quando ninguém cuida”. Cicely Saunders

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Trabalho desenvolvido para a disciplina de Introdução aos Cuidados Paliativos da Universidade de Brasília - Faculdade de Ceilândia

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

FILME UMA PROVA DE AMOR E PRINCÍPIOS BIOÉTICOS




1.Sinopse do filme



         Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são informados que Kate (Sofia Vassilieva), sua filha, tem leucemia e possui poucos anos de vida. O médico sugere aos pais que tentem um procedimento médico ortodoxo, gerando um filho de proveta que seja um doador compatível com Kate. Disposto a tudo para salvar a filha, eles aceitam a proposta. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Anos depois, os médicos decidem fazer um transplante de medula de Anna para Kate. Ao atingir 11 anos, Anna precisa doar um rim para a irmã. Cansada dos procedimentos médicos aos quais é submetida, ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação médica, de forma a que tenha direito a decidir o que fazer com seu corpo. Para defendê-la ela contrata Campbell Alexander (Alec Baldwin), um advogado que cuidará de seus interesses.


2. Princípios Bioéticos

A Bioética caracteriza-se por ser uma ciência na qual o homem é o sujeito e não apenas o objeto. Dessa forma, essa ciência adotou alguns princípios ou referenciais para analisar os dilemas e/ou os conflitos de valores que surgem nas relações humanas; são eles: autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça.
O princípio da autonomia garante que a pessoa pode gerenciar sua própria vontade, ou seja, ela tem liberdade de decisão sobre a sua vida. Os princípios de beneficência e de não maleficência significam fazer o bem e evitar o mal, respectivamente. Assim sendo, o profissional sempre que for propor um tratamento a um paciente deverá reconhecer a dignidade do paciente e considerá-lo em sua totalidade, de modo a se evitar fazer mal. Por fim, o princípio de justiça consiste em dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo suas necessidades, ou seja, considerar que as pessoas são diferentes assim como as suas necessidades.

3. Bioética e o filme Uma Prova de amor

O filme “Uma prova de amor” reproduz fatos polêmicos, envolvendo a vida humana, questões filosóficas, éticas e religiosas. Kate, uma menina com leucemia, enfrenta a doença diante de um mal prognóstico. A família de Kate descobre precocemente o câncer, mas mesmo assim sua expectativa de vida é pequena. Toda a rotina da família muda, a mãe, por exemplo, deixa o emprego de advogada para se dedicar aos cuidados da filha. Na busca de ajudar Kate, seus pais resolvem gerar outro filho em proveta que fosse compatível com a filha doente.
Desde então, Ana, a filha projetada para salvar a vida da irmã, foi submetida a diversos procedimentos invasivos e dolorosos. O ápice da história acontece quando Kate entra em falência renal e necessita que Ana doe um de seus rins para Kate. A mãe faz de tudo para salvar a vida de Kate, mas é surpreendida quando Ana a processa alegando que não quer mais ajudar a irmã, a pedido de Kate. O que a mãe não entendia é que Kate já havia aceitado seu processo de terminalidade, e que estava se sentindo um peso para a família, na verdade os procedimentos realizados em Kate não iriam alcançar o objetivo da cura.
Sendo assim, a família passa a viver nessa dualidade entre salvar a vida de Kate ou deixá-la partir. A mãe não aceita que a filha está morrendo e enfrenta sua filha Ana nos tribunais. Após descobrir que Kate realmente queria partir, a mãe passa a entender melhor a mentalidade de Kate em seu processo de morte.
            Trabalhar com o luto antecipatório é uma tarefa árdua, mexer com sentimentos enraizados de negação da morte, a avançada luta medicinal contra a morte, a prolongação da vida a qualquer custo. Os cuidados paliativos vieram para promover dignidade no processo de terminalidade, e vai contra ações que prolonguem a vida de qualquer forma, ignorando a impossibilidade de cura, a dor e o sofrimento causado pelo processo patológico.
            Os princípios dos cuidados paliativos são: fornecer o alívio para dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispnéia e outras emergências oncológicas; Reafirmar vida e a morte como processos naturais; Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente; Não apressar ou adiar a morte; Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente; Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte; E usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.
            Ou seja, cuidados paliativos não consiste na espera da morte, mas na promoção da qualidade de vida até que ela chegue ao processo de finitude. É importante salientar que a nossa assistência também deve ser prestada aos familiares, no filme por exemplo, a mãe de Kate não aceita o prognóstico da filha e exige que todos os procedimentos possíveis sejam realizados, mesmo sendo orientada pela equipe médica de que tais procedimentos não conseguiriam combater o processo patológico enfrentado por Kate.
            E Kate passa por demasiado sofrimento por isso. Portanto a unidade de tratamento compreende o paciente e sua família, e por isso a comunicação adequada entre equipe de saúde e familiares e pacientes é a base para o esclarecimento e favorecimento da adesão ao tratamento e aceitação da proximidade da morte.
            Os cuidados paliativos também não consistem apenas em cuidados hospitalares, por exemplo, o fato de promover autonomia e alguns desejos do pacientes é uma forma de oferecer a ele qualidade de vida. Um exemplo disso no filme é quando a equipe médica libera Kate para ir à praia.
            Segundo o INCA, os cuidados paliativos modernos estão organizados em graus de complexidade que se somam em um cuidado integral e ativo. Os cuidados paliativos gerais referem-se à abordagem do paciente a partir do diagnóstico de doença em progressão, atuando em todas as dimensões dos sintomas que vierem a se apresentar.
Mesmo após o óbito do paciente, a equipe de cuidados paliativos deve dar atenção ao processo de morte: como ocorreu, qual o grau de conforto e que impactos trouxe aos familiares e à própria equipe interdisciplinar. A assistência familiar pós-morte pode e deve ser iniciada com intervenções preventivas.
Além disso, o filme aborda vários temas éticos e bioéticos relevantes, que devem ser discutidos em nossa sociedade. O primeiro deles está relacionado à fertilização in vitro, onde o único objetivo da nova vida (Anna) é gerar vida para outro ser (Kate). O segundo tema a ser elencado é com relação aos exames e procedimentos pelo qual a Anna é submetida a passar, que são extremamente invasivos e dolorosos e que coloca em risco sua vida desde pequena. O terceiro ponto a se mencionar é com relação à vontade e a autonomia das meninas (Kate e Anna), protagonistas principais de todo esse enredo, que em momento algum foram ouvidas pelos seus pais com relação a todos os procedimentos médicos realizado nelas. O quarto tópico está relacionado à negligência da mãe quanto aos outros membros da família, que ficaram em segundo plano na vida dela diante da doença de Kate. O quinto aspecto importante do filme está relacionado ao caráter pacifico e omisso do pai das meninas diante das loucuras de sua esposa e dos procedimentos exagerados realizados pela equipe médica.
O caso exposto pelo filme, no Brasil, teria um andamento diferente, pois segundo o art. 15 do Código Civil diz que: “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de morte, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica", então se os pais de Anna optassem pela inseminação In vitro para a sua concepção, com a única finalidade de adquirir órgãos da menor, para salvar a filha mais velha da leucemia, isso não seria possível, sem a devida autorização judicial, e sem o devido consentimento de Anna, prevalecendo, desse modo, o princípio do direito ao controle do próprio corpo.
Quanto ao processo de morte, ritos de passagem e luto presentes no filme, evidencia-se a questão do luto antecipatório na vivência familiar, conforme mencionado anteriormente, através dos momentos de “despedida” antes mesmo da morte ilustrados pela lembranças de momentos com Kate no passado. Em relação à passagem menciona-se no filme apenas que ela partiu deixando de respirar suavemente deitada no leito. Como pós-morte mostra-se o funeral realizado e a reorganização da família.
Esse filme é de fácil entendimento e serve como instrumento para discussão sobre cuidados paliativos e as atitudes tanto do paciente como da família frente à morte e o morrer, ajudando profissionais de saúde a compreender essas situações e melhor abordá-las na prática do dia-a-dia.

4. Referências Bibliográficas
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Cuidados Paliativos. Disponível em:< http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=474>. Acesso em: 4 de fevereiro de 2014.
JUNQUEIRA, Cilene Rennó. Bioética: Conceito, Fundamentação e Princípios. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_bioetica/Aula01.pdf>. Acesso em 4 de fevereiro de 2014.
MARIA, Teresa. Uma prova de amor (poder da família x autonomia do menor). Setembro, 2012. Disponível em:<http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/uma-prova-de-amor-poder-familiar-x-autonomia-do-menor/65865/>. Acesso em: 4 de fevereiro de 2014.
SPIRI, Wilza Carla; BERTI, Heloísa Wey; PEREIRA, Maria Lúcia Duarte. Os princípios bioéticos e os direitos dos usuários de serviços de saúde. O Mundo da Saúde – São Paulo, ano 30, v. 30, n.3 jul./set. 2006. Disponível em: <http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/38/principios_bioeticos_direitos.pdf>. Acesso em 4 de fevereiro de 2014.
UMA PROVA DE AMOR. Direção de Nick Cassavetes. Estados Unidos: PlayArte Pictures, 2009.  1 DVD (149 min.): son., color. Legendado. Port.

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